domingo, 16 de setembro de 2012

Luar prateado final

Dizem por ai que, uma vez que se aprende a ser soldado, nunca mais se esquece a ser um. Balela! Ou eu nunca tinha sido de fato um guerreiro, ou então os meus sonhos, não, sonhos são audazes e selvagens, quando se pensa no futuro com os pés muito no chão, não se pode dizer que se está sonhando... perspectivas, isso, essa palavra é melhor! Ou nunca tinha sido de fato um soldado, ou minhas perspectivas de uma vida tranquila e segura apagaram de mim toda a memória do que é ser um. O mais provável é que fossem os dois: até então nunca tinha sido de fato um soldado, quero dizer ESSE tipo de soldado que eu sou hoje! E você sabe muito bem que há uma diferença grande entre um soldado qualquer, um soldado dos nossos e um soldado do nosso tipo. Pois é! E eu também estava de espírito fraco naquela época, abalado com o fim do meu casamento, com o envolvimento da minha noiva com outro, com o despedaçar dos meus sonh... digo, das minhas perspectivas... com certeza teria entrado em depressão se tivesse parado para pensar, mas felizmente o treinamento não me dava essa chance.

O treinamento, claro, foi muito diferente do que eu recebi para me tornar um cavaleiro e também muito diferente deste que meus homens recebem agora. Diferente da maioria de nós, eu tive que aprender tudo sem contar com companheiros de turma e em um campo de instrução improvisado. Eu, claro, nem suspeitava que o certo seria eu estar treinando em um campo próprio com uma turma de formação, equipes de instrução e tudo mais. Para mim meu comandante estava sozinho numa luta contra o que ninguém entendia e eu era seu único recruta.

Não sei quanto tempo durou aquele meu aprendizado. De início foi aquele inferno que todo bom recruta novato passa: longas marchas, calor infernal, frio de rachar, exercícios físicos, dormir pouco, sujo e com fome... em suma, aprender a ter disciplina sobre o corpo, resistir às intempéries, manter-se firme mesmo quando tudo por dentro está prestes a ruir. E lhe falo que passar toda aquela dificuldade foi como um banho em minha alma! Eu já não amargurava tanto as desgraças que haviam me acontecido. Não, eu lhe garanto, não foi simplesmente o efeito do tempo fechando as feridas.

Depois passamos para o treinamento padrão de um cavaleiro, ou melhor, para uma versão um tanto, hum, digamos, alternativa dele. Não treinamos nada com cavalos! Também nem tinha como... estávamos bem isolado de tudo e de todos, ora nas florestas, ora nas matas, achar um cavalo ali ia ser um tanto complicado. Na verdade, a falta de equipamentos ali me fez o treinamento parecer um tanto... patético! Na hora de lutar com espadas, treinávamos com galhos de árvores, as lanças, fazíamos improvisadas de madeira com ponta lascada. Tentamos treinar com martelos, mas nossa tentativa de construir um com falhou miseravelmente, o mesmo insucesso tivemos com machados. Não preciso dizer que não tocamos em arco e flechas e bestas. Em compensação treinamos muito com bastões (que tiramos de duas enxadas velhas que achamos em uma roça abandonada) e luta corpo a corpo.

Bem... é verdade que talvez nem todas as lutas tivessem feito parte do treinamento... o caso é que as coisas começaram a ficar um pouco mais tranquilas... (mais tranquilas que fazer uma marcha forçada de sessenta e quatro quilômetros, carregando um bom peso em pedras, com água racionada e a três dias sem dormir) e o comandante começou a querer me preparar para o que estava por vir e eu não entendia... sabe? Ele começou a querer dar a entender de onde vinha, o que estava acontecendo e aquilo era demais para o meu mundinho e eu acabava o ofendendo sem querer. Além disso, o treinamento me parecia tão mal planejado que eu passei a encarar aquilo meio que como brincadeira e acabei me dando a liberdade de planejar meu retorno para a vida "normal"... quando o comandante me encontrava nessa situação, eu acabava ouvindo um sermão, que virava bate boca e por fim rolava uma briga daquelas. A briga era feia mesmo e eu acabava virando "besta" de tão estressado que eu ficava! Felizmente nunca nos ferimos seriamente, sempre que o embate chegava no ponto crítico a gente parava se acalmava e acabava esquecendo aquela porcaria toda.

De luta em luta, chegou uma hora que meu comandante perdeu a paciência por completo! Em um determinado dia ele me levou para uma marcha, sem nada dizer e eu sem escolhas fui até aproveitando a caminhada, já que a passada era tranquila e eu não tinha que carregar peso algum. Depois de uma meia hora de caminhada, chegamos no alto de um morro e lá ele gritou uma palavra que me era estranha, uma três vezes. Ele na verdade, como fui descobrir depois, estava chamando um nome: "Aloth". Após isso eu pude perceber que algo veio se aproximando, saindo do bosque do outro lado do morro e subindo o mesmo com uma velocidade e vigor incríveis. Era bem mais rápido que um cavalo e grande, muito grande, devia ter uns três metros de altura, pele prateada e... e eu reconheci aquela criatura, era a que eu vi quando sai da caverna quando fui "transformado". Essa foi a segunda vez que eu vi Dos Aloth e que fomos devidamente apresentados.

Eu não senti medo. Não, não era minha bravura, se fosse bravura eu sentiria medo e conteria ele. Era Aloth que, apesar da aparência, exalava confiança. Se ele quisesse poderia me assustar tanto, que eu teria um ataque e morreria fulminado do coração. Com a impressionante presença do gigante prateado de quatro braços o comandante começou a revelar parte dos fatos (não todos, porque não tínhamos tanto tempo assim). Ele falou que tinha vindo de outro mundo, que tinha descoberto por acidente uma espécie de estrada abandonada entre diferentes universos, que, por meio da estrada, explorou vários lugares, conheceu diferentes criaturas, que um dia se deparou com algo horrível, estranho e enlouquecedor tomando conta de um trecho da estrada, que ele foi a fundo nesse mistério e arrumou um motivo para lutar contra ele (ele não explicou o quão fundo foi e nem o motivo, mas hoje eu acho que sei), que foi visitando cada universo que estava sendo ameaçado por esse fenômeno que ele chamou simplesmente de "horror", que em cada um desses universos ele coletou informações, recrutou seres, conseguiu equipamento, que todos esses lugares já foram perdidos, que um dia encontrou Aloth vagando pela estrada, que Aloth dizia ser enviado dos construtores da estrada para ajudar meu comandante com o objetivo dele, que ele veio fazer uma missão de reconhecimento em meu mundo natal, que o horror não estava aqui ainda quando ele chegou, que foi uma cilada, que quando ele viu o portão para a estrada já estava ocupado pelo inimigo, que ele, meu comandante, tratou de se infiltrar na minha sociedade, que ele conseguiu achar um artefato singular, que conseguiu quebrar passar pela vigilância inimiga e veio para avisar que uma operação de resgate estava para ser efetuada e que, mais um monte de "quês" que eu quase desamei de tanta informação.

Não ache que eu engoli tudo, aquilo foi demais para mim! No fim das contas acabei decidindo que "ajudaria meu comandante a voltar para a tal estrada e depois veria o que faria para rearrumar minha vida". Para você ver como, apesar de tudo, eu estava preso à uma "ideia fixa sensata". No fim das contas era só uma decisão ridícula, afinal eles, naquele momento, não precisavam da minha ajuda. Mesmo assim continuaram me treinando, porque meu comandante pensava que eu iria junto com eles.

O treino, ministrado por Aloth, foi um tanto interessante e tinha o objetivo de me dar preparo psicológico para lidar com o Horror. Foi mais um aprendizado de como direcionar minhas emoções mesmo,  claro que eu não aprendi nem metade do minimo que se precisa para tal empreitada, mas foi o suficiente para eu não me borrar todo ao ver o inimigo. De quebra, ao fim disso tudo eu também passei a conseguir controlar minha transformação em fera.

Quando finalmente chegou a hora, partimos para as montanhas onde se encontrava o complexo de cavernas e o portão para a estrada. Você pode estar esperando uma narrativa de combates emocionantes, mas esqueça, não tivemos um confronto sequer! Chegamos no complexo e demos de cara com a força tarefa de resgate, eles já tinham atacado e montado uma cabeça de ponte ali, já fazia um bom tempo.

O portão no caso, era um arco de pedra, largo o suficiente para passar uns três soldados de uma vez, cravado na parede da mesma e mostrando um caminho de escuridão sobrenatural. Quando o comandante me convidou a entrar e eu recusei, me preparei para tomar um esporro seguido de um imenso sermão, mas não teve nada disso...

-Já esperava por isso.

-Senhor?

-Aloth me contou que  você não nunca pretendeu vir conosco, seu objetivo ainda é recuperar a antiga vida.

-É que, veja bem com...

-Deixa de conversa fiada. Você está decidido à isso por que é um imbecil de marca maior. Mas eu não vou te forçar a nada.

-Aãh... obrigado por tudo então comandante! - e eu já ia embora...

-MAS, lhe adverto que esse universo, não demora muito, cai nas mãos do Horror.

-E... o que significa isso?

-Não sei cacete! Nunca fui idiota para ficar em um para descobrir.

-Ainda sim senhor prefiro morrer aqui q...

-Deixa de ser retardado, quem disse que você vai morrer?? Isso não é uma invasão inimiga normal...

-Ah... não??

-Eu não vou te explicar isso. Vamos fazer um trato, você vai sair daqui, vai ir hoje mesmo para a sua cidade...

-Eu não posso entrar lá...

-Dê seu jeito! Continuando, você vai entrar lá, vai achar sua noiva, vai conversar com ela, vai ver como estão as coisas por lá e vai decidir se quer ficar aqui, ou não. Nós vamos manter essa cabeça de ponte aqui por mais três dias. Se mudar de ideia, pode vir para cá, pode trazer a garota também.

-Senhor, me desculpe, mas não...

-Para de me amolar e vai logo!

***

E eu fui. É isso mesmo, eu era retardado a ponto de decidir ficar num universo a mercê do Horror. A sorte é que eu também fui de fato atrás da minha ex-noiva. Me infiltrei na cidade à noite, com o faro apurado que eu ganhei com minha transformação, consegui sentir o cheiro dela, com um perfume barato, misturado ao de outras mulheres e homens em... um... conhecido... bordel...

Corri para lá sem a menor descrição! Entrei no estabelecimento e logo se instaurou um silêncio geral! Vi minha garota lá, vestida como uma meretriz, me encarando com um olhar de medo, ou talvez repreensão....

-Vo-você?

Me aproximei dela, não estava entendendo nada daquilo.

-M-meredy? O que aconteceu? Não estou entendendo...

Ela virou o rosto e disse num tom melancólico:

-V..vamos conversar num lugar mais reservado...

Fomos para um dos quartos do local. Assim que nos fechamos a música e a festa voltaram no salão principal.

-Meredy, o que houve? Não ia se casar c-com um nobre?

-Meu pai morreu em um ataque das criaturas e minha mãe se tornou uma transformada. Sem pais, ou tios, como é o meu caso, uma moça passa a ser responsabilidade do noivo...  -ela parou e deu um suspiro profundo - eu, eu deixei que ele me desonrasse e quando chegou o dia do casamento, eu não era mais digna e ele fez o que, o que era certo... -outro suspiro- e me entregou para a cafetina...

-Certo? Você acha realmente isso???

Ela agora estava aos prantos!

-Uma moça tem que se casar virgem!

-E está feliz com essa vida?

-É a vida que eu mereço!

O pior é que dava para perceber, pelo seu olhar, que ela realmente acreditava naquilo.

-Você não precisa continuar nessa condição! Venha comigo, vamos para um lug...

*BLAM!

Nem terminei a frase e alguém meteu o pé na porta, me virei e vi dois guardas da cidade seguidos de um jovem lorde local e a cafetina.

-Ela não vai a lugar algum, é minha propriedade! - Disse a dona do prostíbulo.

-Quero ver quem vai me impedir. -Falei em um tom tão baixo e tão raivoso, que mais pareceu um rosnado.

-Seu merdinha! Está querendo me ofender? Meredy é minha puta! - Disse o jovem lorde.

-Meu noivo por favor...

-Calada! Meretriz! Não me chame de noivo!

Pelo que entendi foi aquele sujeito que desonrou Meredy. Se era mesmo eu não sei, só sei que senti que estava prestes a explodir de raiva, prestes a me tornar fera e dessa vez eu não lutei nem um pouco para evitar isso.

-DEMÔNIO!! - gritou alguém, apavorado com minha aparência.

-MATEM ESSA BESTA!! -disse o lorde.

Um de seus guardas já estava todo mijado e o outro, mais valente (talvez o único bom homem com coragem no coração naquele lugar podre) avançou com sua lança para cima de mim, só para terminar com a cabeça arrancada por uma patada minha. Me virei para o outro guarda, o covarde tremia tanto que mal conseguia ficar de pé! Tomei sua lança sem dificuldades e usei ela para empalar o coitado.

-CHAMEM A GUARDA!! CHAMEM A GUARagh!! - saltei para cima do "noivo" de Meredy e lhe arranquei o coração! Em seguida ceifei a vida da cafetina, parti para o salão principal e dizimei todos os que encontrei. Quando a última vítima caiu morta no chão, me voltei para Meredy, confiante e orgulhoso, acabara de mostrar que poderia defender ela de qualquer coisa e confiava que ela decidiria partir comigo.

-Vamos querida?

Mas para meu espanto, ela, que assistiu a cena com o pavor estampado na face, agora me olhava com desprezo e reprovação.

-Você... você matou todas essas pessoas??? Seu, seu bárbaro! Seu monstro!

-Meredy?

-Como pode matar meu ex-noivo? Ele era um dos homens mais distintos dessa cidade!

-Está louca Meredy???

-Louco está você!!! Seu... seu demônio! Eu nunca irei viver com um bruto, um ignorante como você!

Talvez fossem conceitos arraigados demais nela, talvez fosse sua mente fechada, talvez tivesse ficado louca. Mas na hora, a única coisa que eu percebi, foi um medo, um pavor de lutar, de combater, um conformismo doentio... Ela estava lá, naquela condição precária e concordava com aquilo tudo, só para não ter que confrontar os outros e brigar por uma nova condição. Eu, senti nojo, dela e de mim, pelo papel que eu tinha feito naqueles últimos anos...

Não aguentei ficar ali nem mais um segundo. Já na minha forma natural caminhei para fora daquele antro de podridão e me dirigi para a saída da cidade. Estava desolado e acredite, eu ainda não sabia o que fazer...

-Woof! Woorf!

Me virei para os latidos e reconheci um grande e jovem lobo prateado. Lobos adultos não costumam latir, eu sei, mas aquele parecia desconhecer a regra. Ele também nem estava agindo como um lobo, mas sim como um cão, abanando o rabo e fazendo festa para mim... claro me senti bobo por não o ter reconhecido!

-Lobinho! Nossa! Como você cresceu!

-Esses animais são fiéis à sua matilha, nunca se esquecem de seus companheiros e sempre estão dispostos a lutar por eles! - Olhei e vi um andarilho, era estranhamente alto e forte para um mendigo, usava um capote que lhe cobria todo o corpo e seu chapéu fazia sombra sobre seu rosto.

-Cuidou dele andarilho? Eu lhe agradeço!

-Não cuidei de nada! Ele viveu por conta, apesar de sua criação ele nunca esqueceu sua essência. Um exemplo importante! Sempre poderemos viver enquanto nos lembrarmos de quem somos!

-Hahaha, um mendigo filósofo! Não está falando coisa com coisa, mas mesmo assim lhe agradeço!

-Só lamento pelo seu cavalo, ele morreu quando seu ex-sogro foi atacado!

-Hã?? Como sabe quem sou???

-Não se apavore! É uma cidade pequena e uma gente fofoqueira, todo mundo sabe de todo mundo, inclusive da triste história de Meredy.

-Não sei o que fazer... - "com relação à ela", eu ia falar, mas o estranho me interrompeu.

-Volte para sua matilha, oras!

-E eu voltei oras!

-Matilha é por quem você luta e ao mesmo tempo quem luta por você!

Me virei para a montanha da caverna, respirei fundo e quando me virei de volta não vi mais o mendigo. Não tive dúvidas, joguei o lobinho ,que de inho não tinha mais nada, no ombro (o safado ainda tentou me morder), me tornei fera e saí em disparada rumo ao portão.

A caverna estava iluminada pelos raios prateados de uma lua cheia, alguns homens estranham minha forma feral, mas ninguém esboçou uma reação hostil. O comandante estava lá, de pé, dando instruções à um grupo de combate, ele planejava invadir a cidade e me levar nem que fosse na base da porrada. Ficou aliviado ao me ver, estendeu a mão e disse

-Bem vindo ao grupo, Karl Rudo.

***

O adjunto parecia impressionado:
-Nossa senhor, nunca tinha ouvido sua história de recrutamento, mas o que eu perguntei era se...

-Se eu já desejei outra vida, ser um bem sucedido homem de família, me preocupando apenas com a família, a carreira e o fim da vida e blablabla... eis ai sua resposta, já desejei e ainda desejo. Posso ser um homem bem sucedido, de família, me e preocupando apenas com ela, com a carreira e com o fim da vida E fazer o que eu faço. Só não posso mudar minha essência! O meu sucesso não pode ser apenas material, o meu conceito de família sempre vai abranger meus irmãos de arma, nunca vou deixar de me preocupar com ela, minha carreira nunca vai se limitar ao meu trabalho e minha que a única preocupação com o fim da minha vida seja em morrer lutando, seja qual for o tipo de luta, que seja luta nobre. Entendeu?

-Sim senhor!





domingo, 9 de setembro de 2012

Luar prateado parte IV

Eu não lembro muito de como eu acordei, acho que fiquei meio anestesiado por quase um dia inteiro, com a vista trêmula, sonolento, sem conseguir sentir nada: frio, calor, dor, cheiro, ou gosto. A questão é que quando me dei por mim, eu já sabia que eu estava flutuando, imerso em um líquido estranho, um tipo de gelatina. Já sabia também que aquilo tinha um cheiro forte e nauseante, já sabia que estava com dor e com frio. Sabia disso tudo, mas não tinha parado para pensar ainda.

Até que lembrei que eu precisava de ar!

Eu notei que eu estava numa casulo translúcido e não perdi tempo em rasga-lo com minhas garras! Isso mesmo garras, minhas mãos ganharam grandes garras negras e meus antebraços estavam cobertos de pelos prateados! Logo que notei isso meus pelos eriçaram, a pelagem começou a subir meus braços e eu senti uma dor insuportável no corpo! Olhei para baixo, minhas pernas estavam peludas e... pelo grande universo... meu tronco estava rachando! Senti uma dor lancinante em minha face e não aguentei, desmaiei.

Acordei novamente, no chão duro e frio de uma caverna, a minha frente estava o casulo rompido, com um aspecto bem apodrecido. Eu me levantei com bastante dificuldade, estava atordoado, com fome e sentindo muita dor. Notei que estava quase "normal"... haviam alguns tufos de pelo prateado pelo meu corpo e eu estava muito magro, mas no geral ele estava normal. Vi também que eu estava nu, mas não me importei tanto com isso na hora.

Olhei em volta e vi que estava em uma caverna, uma caverna pequena, clareada pela grande abertura que era sua entrada. Respirei fundo, o ar era pesado e desagradável, carregado de podridão, eu acho que teria vomitado, se tivesse algo na barriga para jogar fora. Foi como se eu tivesse ido e cheirado cada canto daquela caverna, não precisei nem ver para saber que haviam outros casulos podres naquele lugar, que haviam restos de lobos por todo o chão e que havia algo diferente no fundo da caverna. Me virei, vi e acho que nunca senti tanto medo na minha vida.

Era uma criatura gigantesca, devia ter uns três metros de altura, ela tinha duas pernas incríveis e quatro braços, um par grosso e robusto terminando em uma mão de apenas três dedos e outro mais fino terminando em mãos de cinco dedos, digo, mais fino em comparação com o outro par, por que mesmo este devia ser mais grosso que minhas pernas juntas! A cabeça da criatura era ovalada na frente e se estendia formando um losango atrás! Ela tinha quatro olhos muito negros e dentes pontudos, grandes e afiados! Sua pele era fibrosa e da cor da mais pura prata! Eu senti muito medo, senti que aquilo ia me atacar! Mas de repente o medo sumiu e a criatura, num só salto, saiu para fora da caverna e foi embora correndo.

 Eu resolvi fazer o mesmo, tinha que voltar para a casa, tinha que comer, descansar e principalmente, tinha que ver como estava Meredy. A passos cansados, pus-me a marchar até a cidade.

***

Não faço a menor ideia de como consegui me orientar, bem, na verdade faço, mas isso não importa, o que importa que depois de quase um dia andando eu cheguei no rancho da família da minha noiva. Rastejei até o casarão e bati na porta, por algum motivo eu tinha esperança que minha amada estivesse lá, que ela cuidaria de mim e que eu poderia descansar, mas quem atendeu a porta foi uma empregada, ela gritou e eu desmaiei.

Acordei no porão da casa, estava deitado em algo fofo e coberto, mas também notei que estava preso por grilhões e algemas. Tentei me levantar e consegui sentar na minha "cama". Vi que dois empregados do meu sogro me olhavam severamente, ambos portavam machados e não estava com um olhar receptivo. Uma empregada me deu algo para beber e um mingau para comer e depois se retirou. Fiquei quieto esperando minha sina.

Não demorou muito e a empregada voltou com meu sogro. Ele entrou ficamos nos encarando por um tempo, até que ele quebrou o silêncio:

-Consegue me compreender?

Assinalei com a cabeça que sim.

-Faz quase um ano que você desapareceu...

Um ano? Para mim foi um espanto! Eu já suspeitava que tinha perdido algum tempo, mas não tinha imaginado que havia sido tanto.

-E pensamos que você tinha sido pego e morrido... antes fosse essa a verdade... veja só, justo meu ex-genro um transformado!

Foi um baque para mim! Eu não tinha pensado em nada direito ainda. Transformado? Mas o pior foi a palavra "ex-genro".

-E...ex-genro?

-Entenda, foi duro para a gente, até gostávamos mesmo de você, mas você sumiu, minha filha ficou bastante abalada, um outro rapaz apareceu, um filho de um nobre, bom moço, consolou ela e... bem, eles já estão noivos...

-Não! - Senti meu coração bater mais rápido, meu corpo todo começou a doer.

-Esperava o que? Que minha filha ficasse solteira para sempre?

-E...eu voltei...

-Ridículo! Olhe para você! Um monstro! Um transformado! Antes estivesse morto!

Senti minhas mãos ardendo, senti que ia explodir, mas de repente consegui ficar calmo.

-Escute rapaz, não lhe desejo mal, mas você não pertence mais à essa distinta sociedade. Conhece as leis, todo e qualquer capturado que voltar deve ser executado. Eu não quero fazer isso com você, por isso, por favor, não volte mais aqui, não procure mais Meredy, fui claro?

-V..vai me libertar.

-Vou sim, não quero carregar sua morte.

-Certo...

Não consegui agradecer. Me deram mais um pouco de mingau, me vestiram alguns trapos e depois, ainda acorrentado e com um saco na cabeça, me levaram pela mata e me abandonaram em uma clareira. Eu ainda estava bem fraco e não tinha a menor esperança de me libertar daquelas correntes... sim, eles não se deram ao luxo de tira-las de mim. Esperei que a morte viesse me buscar, mas outro me encontrou antes.

***

Meu comandante. Ele vestia uma armadura estranha e empunhava uma espada negra, mas na hora não notei direito, não queria saber de nada, queria morrer.

-Ora! Você? Aqui? 

Não respondi nada, nem olhei para ele.

-Que correntes são essas? hahaha... sempre ouvi dizer que o casamento acorrentava as pessoas, mas sempre achei que fosse mera figura de linguagem!

-Eu não me casei. -Respondi quase que rosnando.

-Eu sei que não. - O tom de voz dele mudou, ficou mais sério - Sei que você foi capturado e modificado.

-... Vai me matar então? - Não foi nem uma pergunta, foi uma espécie de apelo sem muita emoção.

-Não, não vou. Erga esse braço para eu poder tirar essas correntes.

Fiz o que ele mandou. Ele usou a espada, a lâmina da espada ficou estranhamente "trêmula" e ele cortou as minhas algemas como se fosse manteiga.

- Vou tentar te recrutar, de novo.

-Perda de tempo. Eu não sirvo mais para soldado, não sirvo mais para nada, sou uma escória...

-E dai?

-Sou um transformado, sou parte do inimigo!

-É mesmo? Quantas pessoas você já matou?

-hum...

-Pelo inimigo! Não conte sua vida de cavaleiro.

-Eu não quero matar ninguém. Mas posso perder o meu controle e...

-E o que?

-Não sei. Atacar meus colegas, até o senhor talvez.

-Acha que não consegue se controlar?

-Não consigo mais nada... sou um lixo, faria um favor se me matasse.

Eu não estava pensando nisso na verdade. O fato é que eu estava cheio de pena de mim mesmo e estava me vendendo como escória a fim de ouvir algumas palavras motivadoras. Infelizmente eu estava conversando com o comandante.

-Não vou te matar. E não se preocupe em me atacar, na atual circunstância você tomaria uma baita de uma surra!

-Ah! É por que você não viu os outros transformados... o mais fraquinho precisou acabou com mais de vinte homens da guarda antes de ser parado...

-Até aquelas porcarias tem mais dignidade que você! Se não fosse amigo meu eu não insistiria em te chamar para vir comigo.

-Então o senhor está me chamando só por amizade.

-Isso. E pena talvez.

-Então desista, só vou ser um fardo...

Nem terminei de falar isso e o comandante me segurou pela gola e me deu uma baita de uma sacudida!

-VOCÊ VEM COMIGO ENTENDEU??? NÃO É UM PEDIDO!! É UMA ORDEM!!! VOCÊ VAI VOLTAR A SER UM SOLDADO E É AGORA!

Foi como se a explosão de raiva dele tivesse expulsado todos o pesar do meu espírito, não consegui pensar em mais nada! Só consegui responder uma coisa:

-Sim senhor!


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Luar prateado parte III

Como um pesadelo! Eu queria correr, queria berrar, mas o medo, o medo não, o medo é natural e até saudável, o pavor! O pavor havia  tomado conta do meu corpo e paralisado cada um dos meus músculos! Nem respirar direito eu respirava! Da minha boca só saia um gemido minguado, um choro fraco, um lamento: eu ia morrer e seria igual a uma ovelha, indefeso e impotente.

-Au au au au au au au au... *ponf!

Só que não era eu quem a criatura queria. Ouvi uns latidinhos estranhos e algo pequeno bateu na minha perna. Levei um susto e isso me tirou do choque, me tirei e vi que um lobinho havia trombado comigo, atrás dele estavam seus irmãozinhos e seus pais, dois grandes lobos prateados, com a pelagem manchada de sangue... meteriam bastante medo se não fossem aquelas criaturas. Sim! criatura! Havia duas delas perseguindo a família lupina. Elas estavam caçando, acabaram de emboscar os lobos. E eu no meio daquilo tudo...

Vi um vulto e me joguei no chão, as coisas deram o bote, agarrei o lobinho que estava perto de mim e me encolhi, houve uma luta feia e os lobos levaram a pior. Quer dizer, eu não vi nada, porque estava encolhido no chão chorando de medo, mas quando o barulho da luta cessou, quando um silêncio aterrador banhou o local, eu tive coragem para me levantar e olhar em volta e vi os filhotes, pior, pedaços dos filhotes e nada dos pais.

-Au au au au, auuuuuu, auuuuuf

O lobinho que eu tinha salvo logo notou o que aconteceu e começou a latir e uivar, em desespero, como se estivesse chamando pelos pais. Mas chamou outra coisa...  Uma das criaturas resolveu voltar para acabar com o último da ninhada.

Ela veio caminhando calmamente, ereta e até com certa dignidade até que me percebeu. Então ela parou e ficou assim por um tempo, como se estivesse olhando para mim e o lobinho, depois colocou aquela longa língua negra para fora da boca, que ficou chicoteando no ar, ai ela se curvou e... eu me joguei no chão!

Foi bem na hora! A criatura passou por cima de mim e teria me pegado se eu tivesse hesitado! Ela rolou no chão e logo se pôs em posição de bote de novo e eu estava tentando me levantar, ainda abraçado ao filhote que tinha salvo. Deu para ver os músculos da perna do meu predador se contraindo, ela ia pular mais parou... encarou algo atrás de mim, emitiu um granido e saltou, dessa vez para longe, pondo-se claramente em fuga.

Virei-me, ainda prendendo a respiração, que quer que fosse era terrível o suficiente para imputar medo naquele demônio! Então eu o vi, usando uma armadura velha de briotita e levando uma espada bastarda e um fuzil nas costas.

-Co..comandante?

-Não devia andar por essas bandas a essa hora! É perigoso para quem não quer lutar!

Fui pego por uma explosão de sentimentos, vergonha, raiva, mas ao mesmo tempo aliviado.

-Eles acabaram com uma matilha de lobos aqui! Acho que caçam eles para...

-Mataram para te aterrorizar, estavam brincando com você.

-Comandante? Não acho que...

-Besteira! Essas coisas não são do seu mundinho, você não sabe com o que está mexendo.

-Então me explique! Quero dizer, por favor.

-Não vou perder meu tempo. Só aviso que elas estão crescendo em número, logo começarão a levar pessoas...

-Levar pessoas???

-Assim que elas tiverem tomado toda essa mata, as montanhas aqui em volta e os morros, elas vão começar a atacar as pessoas. Vão matar umas, se alimentar de outras e estas ainda terão sorte com relação àquelas que forem levadas para o ninho.

-Ninho?

-Sim, ninho, de onde estes pesadelos estão saindo. Fica num conjunto de cavernas, nas montanhas, ao longo dessa estrada, perto de onde era comum se ver lobos prateados...

-Na estrada? Essa não! É perto do vale dos lobos! Se elas infestarem aquele lugar elas fecham o único acesso para a cidade e...

-E nada, elas não pretendem isso.

-Comandante.

-Continuando! Os infelizes que forem sequestrados vão passar por um processo de transformação. Aquelas coisas transformam pessoas em monstros!

-...

-Tu não acredita né?

-Comandante, é que...

-Não importa como eu sei disso, se é o que ia perguntar, o que eu quero saber é se você vai lutar.

-Eu? Er... eu vou me casar e pretendo sair daqui logo, penso em levar meus sogros também e...

-Esquece! Vou te acompanhar até a cidade...

***

Não demorou muito para as previsões do meu comandante começarem a se revelarem verdadeiras. Durante três dias a cidade e as terras em volta sofreram com uma grande infestação de animais, todos fugiam dos bosques e das montanhas. Depois começaram a sumir alguns camponeses, a maioria caçadores e lenhadores que tinham que se embrenhar pelas florestas. Dos que sumiam, poucos retornavam e de forma tão bizarra que logo aprendemos a não desejar o retorno dos desaparecidos e a executar qualquer um que ousasse voltar. 

Apesar disso, ninguém se deu ao luxo de investigar as causas do problema. Quando porém um casal de nobres desapareceu (e isso foi na véspera do meu casamento) é que a guarda da cidade resolveu agir: montou uma expedição para buscar os extraviados, caçar a origem do problema e se possível dar cabo dela de uma vez. 

O problema era que aquela guarda não era nada menos que parte das milicias pessoais da nobreza local, "emprestada" para a segurança urbana. Serviam muito bem para manter o poder local fazer cumprir os mandos e desmandos dos seus senhores, mas nunca combateram o bom combate e não tinham a menor disciplina. E eu queria muito que a expedição desse certo, aquilo ameaçava meu futuro e minha futura família, mas sabia que aqueles homens não fariam nada melhor do que serem ceifados...

Não vou dizer que logo pensei em me voluntariar para liderar aquela trupe logo de início, o ultimo encontro que tive com aquelas criaturas ainda me horrorizava, além disso eu não queria realmente correr riscos que, na minha opinião, não eram minha obrigação correr! Mas eu, diferente dos outros habitantes do local, não era tolo o suficiente para achar que um resultado negativo naquela expedição não me afetaria no futuro e eu sabia que eles precisavam de uma liderança experiente. 

A primeira coisa que pensei foi em procurar meu ex-comandante, procurei o dia todo, já que meu casamento havia sido cancelado e adiado até que o sacerdote decidisse que a ira dos deuses havia cessado. Infelizmente não encontrei nem sinal de meu antigo líder de esquadrão e cheguei a achar que talvez ele tivesse comprado a dele lutando com aqueles demônios. 

Entrei abatido em minha casa e nem a festa animada com a qual o meu lobinho me recebeu (sim, eu levei ele para casa) me levantou o astral. Fui até meu quarto e retirei minha espada de seu esconderijo. A minha intenção era somente relembrar os velhos tempos e dedicar uma prece ao meu amigo desaparecido, porém, quando eu vi a lâmina, pensei que talvez eu pudesse ao menos vingar a morte de meu comandante. Tomei coragem, arrumei minhas coisas, afiei e embainhei minha espada e saí com a intenção de tomar o comando da expedição.

Só que mal sai de casa e dei de cara com Meredy:

-Hã? Que é isso meu amado? Por que está com essa espada? Não tinha prometido se desfazer dela?

-Meredy eu...

-Não me diga que pretende acompanhar aquela expedição?

-Eles prec...

-Meu amor e se você morrer? E se você for pego? Quem vai me proteger se esse mal avançar para a cidade?

-Mas...

-Quer que eu perca meu noivo? Quer que meus pais me obriguem a me casar com outro? 

-Não!

-Por favor! Deixe as tarefas de bárbaros para a plebe! Você tem futuro! Tem família! Não seja egoísta!

-Meredy!

-Por favor, jogue fora essa... essa ferramenta de ignorantes! Prove seu amor por mim!

Não consegui resistir, Meredy estava chorando e eu já não estava animado mesmo em participar daquilo. Além do mais, pensava eu, a culpa da baixa do meu ex-comandante era toda dele, que estúpido achar que poderia sozinho enfrentar aquelas coisas... Resolvi então fazer o que achava que era o certo:

-Está bem minha querida, não chore, só estou indo me desfazer de uma vez por todas dessa espada.

-É verdade?

-Juro do meu coração.

***
Você que me conhece hoje pode até achar que eu menti para ela, mas não, o idiota aqui foi realmente jogar aquela arma fora. Engraçado como muitas pessoas acham que, por não serem "militares" oficialmente, elas não tem obrigação nenhuma para a defesa do seu lar... hahahaha, como se aquelas coisas fossem fazer distinção de "guerreiro" para "civil" na hora de vitimar alguém.

Eu resolvi jogar minha companheira de batalhas no lago onde outrora eu e Meredy passamos bons momentos juntos. O local havia sofrido uma bruta transformação: a vegetação havia secado, o chão havia rachado, os animais haviam desaparecido e a água havia sumido, dando lugar a uma substância transparente, viscosa, brilhante e mal cheirosa. 

Arremessei minha lâmina no lago e fiquei observando ela afundar. No entanto não tive muito tempo para pensar no que fiz, senti algo por perto, tentei me virar, mas esse algo se lançou contra mim e acabamos caindo no lago! Senti a substância asquerosa por todo o meu corpo, tentei me levantar, mas o meu agressor me forçou a ficar imerso! Entrei em desespero, acabei soltando o ar, comecei a beber aquele líquido nojento e não demorou muito para que eu perdesse meus sentidos.

domingo, 19 de agosto de 2012

Luar prateado parte II

-Oh! Opa! Olha só quem eu vejo aqui! - Gritou ele do bar... Eu sempre esqueço que se a gente olha demais a pessoa percebe...

-Meu comandante! Que surpresa ver o senhor por aqui! - Disse eu sem me mover - Desculpe não poder conversar, estou um tanto ocupado! - Mal fiz menção em me mover...

-Espera ai! - Não foi um pedido, foi uma ordem. Eu não estava mais subordinado a ele, mas a força do habito...

-Vamos conversar? Para onde você está indo? Vou pegar o mesmo caminho e assim a gente conversa no caminho.

-Vou para a casa da minha noiva comandante. - Menti, estava indo para a loja, mas achei que com isso me livraria dele. Entenda mais uma vez, eu presava muito meu comandante, mas tinha medo dele tentar me arrastar para fora da vida que eu construí.


-Sem problemas! Lhe acompanho pelo caminho. - Doce ilusão... o comandante nunca largava um osso.

-Então comandante, como vai o senhor? O que faz por essas bandas?

-Bem. - Seco e direto, ele não estava ali de passagem - Vou bem. E você o que tem arrumado? - Ignorou sumariamente minha segunda pergunta e eu sabia que não adiantaria repeti-la.

-Montei uma oficina de engenhocas comandante, tem prosperado bastante, pretendo me casar e ingressar na real academia de engenharia em breve.

-E seu cavalo?

-Mantenho-o no rancho de meu sogro. Tärhil sempre foi um bom companheiro, além disso uso-o para viagens... Mas logo vou ter que comprar uma carroça ou um veículo automotor... Não tem muitos destes por aqui, mas tem muitas carroças a vapor e fui eu que as fiz. Não demora muito e eu faço meu auto! Na verdade quero ingressar na academia para isso...

-Entendo. E sua espada?

-Está na sala da minha casa. Reluz como nunca reluziu antes...

-Claro! Quando em combate eu mandava vocês enegrecerem as lâminas. Pratica muito com ela?

-Comandante, desde que vim para cá eu ando meio ocupado.

-Entendo. E sua armadura?

-Erm.... Bem... o elmo eu perdi, a couraça eu vendi e a cota está na casa dos meus pais.

-É uma pena, era uma boa armadura, era de briotita certo?

-Sim senhor, toda feita desse raro mineral, podia resistir até disparos de rifles menores.

-Não devia ter desfeito dela.

-Com todo o perdão comandante... ela não me tinha mais utilidade.

-Não?

-Comandante, a guerra acabou, os tempos são outros, não sou mais militar... - Não tive a audácia de incluir ele nessa afirmação, ele me esbofetearia ali sem dó - e agora quero construir minha família, ter filhos e ter uma carreira de sucesso trabalhando com máquinas a vapor e máquinas de combustão.

Ele me segurou pelo ombro. Virei-me e ele me encarou:

-Como assim não é mais militar?

Ele fez o favor de se incluir na minha afirmação, de tomar as minhas dores e de ficar bem raivoso comigo.

-Comandante, a guerra acabou e com ela o exército real. Não temos mais o que fazer além de tocarmos nossas vidas! - Já aproveitei para voltar a andar.

-Uma vez cavaleiro, sempre cavaleiro! Cacete! Não é por que não tem mais um contracheque dizendo que você deixou de ser militar!

-Pelos céus comandante! No fim da guerra foi o senhor que disse que era para eu esquecer tudo e procurar uma nova vida!

-Não disse para matar sua essência!

-Comandante, tenho que ir. é a casa de minha noiva. Boa tarde.

-Boa tarde. Depois a gente conversa mais. - Dito isso ele me fez a saudação militar local, mas eu não retribui.

***

Entrei, entrei sem bater na porta, sem me anunciar, na casa da família de Meredy. Isso seria uma grosseria muito mal vista naquela época, mas eu estava angustiado demais para pensar em alguns costumes.

-Mas o que! Nossa! Parece que você viu um fantasma! - O Pai de Meredy estava na sala.

-E vi... e vi...

-Querida! Faça uma efusão para o rapaz! MEREDY!!! Seu noivo está aqui! Sente-se rapaz, sente-se.

Meredy desceu as escadas com pressa, sua mãe me veio com uma bebida alaranjada, quente e bem cheirosa e eu quase me joguei numa poltrona.

-Oh! Querido, está branco!

-Hahahaha! Isso ele sempre foi - Brincou o pai dela

-O que aconteceu? - Perguntou a mãe... já era hora de me recompor...

-Hum... nada... nada.  Ah... Meredy... erm... Posso sair com Meredy, para um passeio, hoje? - Disse me dirigindo ao pai dela.

-Hoje é dia comercial, você deveria estar trabalhando, mas... pelo visto você está realmente precisando de um descanso hehehehe. Que mal lhe pergunte, que tipo de passeio.

-Queria passar um tempo com ela...

-Que tal um piquenique? - Disse Meredy tão prontamente que até ela se assustou com sua "audácia". - Ah... q-quero dizer a-acho que é...

-É uma boa sugestão minha noiva! - Disse tentando desembaraçar a situação - É meio em cima da hora, mas dá para nos arranjarmos... isto é se seus pais permitirem.

-Tem minha permissão - adiantou o pai.

-Certo! Vou aprontar a cesta...

-Deixe que eu faço isso minha filha - disse a mãe - Vá arrumar-se!

Meredy subiu animadamente para o seu quarto e eu fiquei proseando com seu pai, na sala, enquanto a mãe improvisava algumas guloseimas para levarmos.

***
Foi uma tarde agradável no final das contas. Passamos todo o tempo junto na beira de uma lagoa muito bonita e conhecida na região. Meredy não me deixou pensar no meu passado, o tempo todo me questionava sobre o meu... o nosso futuro: Casamento, filhos (queríamos muitos), velhice e com tudo isso, quando a morte chegasse, não seria assim tão ruim.

Hehehehe, pode imaginar, sonhava em ter uma vida tranquila, morrer aos sessenta, setenta anos, ter filhos e netos, boa carreira... trabalhar com o que gosto, parecia o melhor que eu poderia ter! Era como se eu tivesse esquecido de toda aquela energia destrutiva correndo e crescendo pelo corpo até conseguir sair numa explosão durante uma carga!!! Ahhh! Eu ainda sentia aquilo sim, um pouco, mas usava com coisas bobas! Uma discussão com um cliente, um mal dito contra um pivete... Achava que seria uma sorte se apagasse o pouco desse fogo que restava em meu coração.

Aliás foi um pouco disso, um pouco de não conseguir deixar as coisas para trás que me fez tomar o assunto com Meredy, enquanto nós voltávamos do passeio.

-Sabe... Estou com vontade de voltar a portar minha espada... o que acha?

-Credo! Aquele trambolho?

-Era... é um costume entre os cavaleiros.

-Você não é mais cavaleiro.

-Já fui. E uma vez cavaleiro sempre cavaleiro.

-Besteira! Se houver uma guerra, depois que nos casarmos e tivermos filhos você vai ir lutar?

-Bem er...

-Bem nada!! Acha legal matar pessoas? Resolver o problema de outros na ignorância e na força bruta? E se você morrer? Quem vai cuidar de seus filhos? Gostaria que eu arrumasse outro marido? Tivesse que ser uma amante paga de um homem de posses?

-Não!

Ela me abraçou forte.

-Então por favor não comece com essas ideias! Se não eles crescem e logo lhe tomam todo! Você é inteligente e bonito demais para isso, eu lhe amo e não quero ver fazendo papel de... de bárbaro!

-Meredy...

-Veja essa cidade! Pessoas dignas e de alta classe! Nenhuma dessas famílias se meteu com guerras! Olhe! Em quanto todo o país foi arrasado, aqui prosperou! Violência não leva a nada!

Me apertou mais forte. Parecia que ia chorar.

-Meredy, tudo bem... foi só um devaneio, prometo não fazer isso nem tocar no assunto.

-Jura? Jura por mim?

-Juro. Vou até jogar aquela espada fora.

Falei aquilo sem pensar e não demorou segundos para me arrepender do que disse, mas já era tarde.

-Oh amor! Faça isso! Ficarei muito grata se fizer!

Levei Meredy para a casa dela, jantei lá e passei boa parte da noite tendo uma prosa amigável com sua família, por fim adiantei a data do casamento para o final do mês e me pus de partida, afinal de contras já era bem tarde e se eu ficasse um pouco mais lá, minha guria poderia ficar mal falada.

Fui caminhando pela estrada, não levava Tärhil para a cidade pois eu tinha um tanto de vergonha dele que, sendo um cavalo de guerra se portava muito mal em ambiente urbano. A questão é que mal dei alguns passos e eu senti que eu gostaria de estar montado... do outro lado da estrada, agachada e me encarando estava aquela horrível criatura de novo! Pele branca, musculosa, garras e dentes grandes e afiados, aquela língua negra sibilando... Ela ia dar o bote, ia dar o bote em mim e eu estava petrificado pelo horror...


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Luar prateado parte I

Sentado, com os cotovelos apoiados em sua mesa o oficial de pele clara e cabelos loiros grandes o suficiente para formar uma franja inconcebível pelo manual fita o vazio com seus expressivos olhos azuis-esverdados...

À sua frente, também sentado, seu adjunto o olhava como se esperasse uma resposta.

-Meu líder... perguntei se o senhor já desejou outra vida, ser um bem sucedido homem de família, se preocupando apenas com a família, a carreira e o fim da vida...

-Já... E faz muito tempo... Se faz sentido em falar nele...

***
É de onde eu venho, eu era oficial lá também, não tão distinto quanto sou aqui, mas era e era bem feliz com isso. Eu era de cavalaria, à cavalo ainda! Existiam alguns blindados movidos à vapor e eletricidade, mas eram raridade... Nosso exército não era tão poderoso, mas sem dúvida era bravo. O fato é que havíamos lutado uma grande guerra e perdemos. O inimigo impôs uma série de condições humilhantes e uma delas acabou com nossas forças armadas e logo eu me vi sem emprego. 

Mas não ache que eu estava preocupado ou triste... bom, de início triste, mas não preocupado. Tinha tudo para começar uma nova vida. Eu tinha juntado uma grana e ia abrir um comercinho em uma vila pouco conhecida e muito pacata, bem no interior. Cheguei lá com meu cavalo Tärhil , minha espada, um fuzil e dinheiro o suficiente para tocar minha nova vida.

Por incrível que pareça eu fui bem recebido e acolhido pelos habitantes locais, a vila basicamente girava em torno da nobreza agrária que lá residia, havia um escola para moças, mas tinha poucas alunas, um templo, um prostíbulo, algum comércio e só. Eu logo tratei de alugar um local para abrir minha venda e oficina de engenhocas, bem perto da praça central e uma quarto, num casarão que ficava na estrada que dava acesso ao povoado.

Esse casarão na verdade era do dono do "outro" comércio do local. Ele vendia tudo o que era preciso por lá, condimentos, tecidos, brinquedos... mas não era meu concorrente, ele não vendia engenhocas e até ficou feliz pela minha chegada... sabe na cidade tínhamos os nobres, o sacerdote e empregados, tanto das casas quanto da escola, alguns funcionários públicos também. No meio dessa hierarquia haviam os comerciantes e como só tinha ele fixo lá ele meio que se sentia "sozinho".

Sozinho em sua classe social, porque sozinho em si ele não era, ah... ele tinha uma bela família e eu, endurecido por tantas batalhas, nem sonhava mais ter. A esposa dele era atenciosa, maternal e a filha, Meredy era muito linda! Pele rosada e macia, seios grandes e firmes, longos cabelos negros e brilhantes, olhos cor de mel, um sorriso lindo, um jeito delicado e tímido... Ela não frequentava a escola de moças, havia sido educada desde pequena para ser uma boa esposa e ela dependeria de um marido, para defende-la e para ama-la. Para mim isso era perfeito.

Eu, claro, não demorei à mostrar meu valor, numa noite, ainda na minha primeira semana lá, acordei com o grito de Meredy! Tive que arrombar minha porta (uma das condições para minha estadia lá era que eu dormisse com a porta trancada por fora, para que a honra da garota não pudesse ser questionada) e dei de cara com ela, de camisola, segurando uma vela encarando com medo algo perto das escadas... logo em seguida surgiram seus pais, primeiro com cara de reprovação, haha, aquele pessoal tinha uma capacidade para pensar besteira muito rápido, mas depois mudaram o semblante para horror e medo. Então eu vi a criatura...

Estava perto das escadas, de quatro, pele branca, veias aparentes, garras, presas, sem olhos... bolas, você já viu muitos destes, mas aquela, aquela parece que foi a primeira vez que eu vi um... Eu teria paralisado de medo se não sentisse que a coisa estava de olho em Meredy, de olho hehehe, modo de dizer, mas ele estava com certeza querendo a garota, aquela língua longa e negra saltava para fora daquela bocarra e sibilava no ar...

Tomei coragem e avancei de mãos nuas mesmo! Sabe, naquelas condições era loucura, não sei se eu ainda estava deprimido pela derrota na guerra, ou se estava louco de amor, mas fui com uma ferocidade que o bicho até saiu correndo! Sai da casa e não vi sinal da criatura, bem... isso nos  cinco primeiros segundos, porque logo senti as garras e o peso dela nas minhas costas! Cai rolando e ela veio para cima de mim, era muito pesada e eu achei que seria o meu fim! No entanto ouvi um rosando e depois só vi uma coisa branco-prateada passando por cima de mim e derrubando aquela coisa... Demorei um pouco para perceber que era um grande lobo, um grande e belo lobo que me salvara a vida e estava engalfinhado em uma luta feroz com aquele demônio...

Não demorou muito os dois desatracaram, a criatura fugiu, ferida, para um bosque e o lobo saiu mancando, seguindo a estrada. Os meus anfitriões saíra da casa, ainda assustados e Meredy me abraçou com força, chorando, soluçando...

Depois disso não tivemos mais problemas. Passou um ano e meu negócio prosperou, comecei a namorar e fiquei noivo de Meredy e por isso tive que me mudar para uma casa no centro, se não ela ficaria mal falada... Entenda, eram outros costumes. Eu estava feliz, já não ligava para a derrota do nosso país e pelo fim da minha carreira militar. Muito de meus amigos vagavam trabalhando de capangas, mercenários, bandidos, mas eu não, eu ia construir uma família e viver bem, com conforto.

Foi então que eu o vi, sentado num bar (esqueci de falar que a cidade tinha um bar). Eu o poderia reconhecer em qualquer canto, com seus curtos cabelos escuros, pele bronzeada, castigada pelo sol, barba sempre feita, cicatrizes no rosto e no braço, olhos verdes... meu ex-comandante de esquadrão, um amigo a quem eu queria muito bem, mas que ao mesmo tempo eu queria longe, sabia que ele não deixaria eu levar aquela vida adiante...  


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Níveis de leitura

Na minha última postagem, sobre o 1984, eu usei as expressões "primeira leitura, segunda leitura..." e muita gente (hahahaha muita gente lendo esse blog, eu sou bom mesmo em ficção...) pode ter estranhado o termo, achando que era preciso ler o livro várias vezes para chegar à aquela interpretação. Bom, a releitura de um texto é crucial para um melhor entendimento do mesmo, mas não é disso que vamos falar agora.

Significados diferentes:

Não é surpresa para ninguém que palavras, expressões possam ter vários significados. Quem usa redes sociais pelo menos convive muito com ironias e duplos sentidos. No primeiro caso o autor quer dizer algo contrário do que ele escreveu e um leitor que deparar com a mensagem fora do contexto dificilmente vai perceber isso, já no segundo existe um significado "ingênuo", mas o que conta mesmo é um outro, "malicioso"¹ que requer um pouco de raciocínio para ser compreendido. Esses são alguns exemplos e existem outros recursos literários que podem ser aplicados para brincar com as idéias de um texto.

Vários significados:

No entanto, em alguns bons textos o que temos são vários significados e TODOS eles são válidos. No 1984 por exemplo, temos a história de um herói tentando sobreviver sob um sistema opressor, temos uma crítica aos governos autoritários, à manipulação da história a disciplina da auto-ignorância, temos uma crítica ao stalinismo... O mesmo livro diz todas essas coisas e não há um significado "mais correto que o outro" e sim um "mais escondido que o outro".

Escavando o texto:

Ai que entram os níveis de leitura. A chamada "primeira leitura" é o significado que você extrai do texto sem fazer muito esforço. É o que há de mais superficial nele, o que é visível. Um significado que exija um pouco de raciocínio, uma abstração um pouco maior do texto, mas que você pode perceber ainda enquanto lê, ficaria na segunda camada, ou "segunda leitura". Aqueles que exigem um raciocínio maior, que você precisa parar para pensar, usar um pouco de seu conhecimento de mundo ficaria na "terceira leitura". Uma "quarta leitura" é aquela na qual você reflete o texto levando em conta o autor e as condições na qual o livro foi escrito.

Níveis ocultos:

Existem significados que nem o próprio autor sabe que colocou no seu texto e só são descobertos levando em conta também a vida pessoal, a história e a psicologia do mesmo. Da mesma forma, padrões no texto podem revelar muito, sobre o seu autor.

Aproveitando melhor o texto:

Não é preciso saber sobre o autor nem contexto histórico para curtir uma boa leitura. No entanto, só tendo ciência desses fatores é que é possível contemplar as verdadeiras dimensões de uma obra. Os níveis de leitura não são necessariamente a quantidade de vezes que você leu fisicamente o texto, mas sim de quantas formas diferentes você enxergou o que foi escrito.

terça-feira, 24 de julho de 2012

1984

Edição do 1984 que eu li


Terminei de ler esses dias a obra prima de George Orwell: 1984. Para quem não conhece nem nunca ouviu falar, já adianto que o "Big Brother", entidade que serviu de inspiração para o reality show surgiu desse romance. É um livro de boa leitura e que se o leitor tiver o trabalho de pensar terá seus conceitos atingidos.

Numa primeira "digestão" da obra, temos o cenário de uma super-nação governada de modo extremamente totalitário por um partido "socialista". Tudo é controlado e proibido, até as emoções são podadas e pensamentos são crimes. Em meio a isso, Smith, um membro área mais externa do partido (uma espécie de classe média) luta, debilmente, contra o "sistema".

Já na segunda leitura, levando em conta uma outra obra do autor, "A Revolução dos Bichos", notamos uma forte crítica à modelos totalitários e principalmente à manipulação da história por ideologias, em como a ignorância e a passividade das massas é aproveitada para deturpar o passado de um povo e com isso justificar atos presentes por parte de quem detém o poder.

Conhecendo a vida do autor podemos fazer uma terceira interpretação, sendo mais uma crítica ao desdobramento da revolução russa e ao stalinismo, mas não se limitando à isso e estendendo essa ao socialismo inglês e até à sociedade democrática, que também utiliza à sua forma o duplipensamento e a manipulação histórica.

Não se engane porém, achando que para aproveitar o livro é preciso um refinamento político, ou sociológico. A história em si é envolvente e é possível curti-la sem necessitar de um pensamento mais aprimorado. O autor tem a excepcional capacidade de colocar o leitor na pele de seu personagem principal. Você se sente, do início ao fim no lugar de Smith, infelizmente talvez. Não espere no entanto ação e heroísmo, não há espaço para isso nessa obra.

As joias da obra todavia, são os conceitos da "novafala", duplipensamento e manipulação da história. No livro parecem coisas absurdas, que só poderiam existir mesmo na ficção, porém uma analise crítica da realidade mostra que tais coisas já existem, são mais usadas do que pensamos e todos nós usamos, sem perceber. É um verdadeiro choque.

Eu recomendo a leitura, de preferência depois de ler "A Revolução dos Bichos", do mesmo Autor. É um livro que eu pretendo adquirir (eu peguei ele na biblioteca do instituto) e que acho importante a releitura de tempos em tempos, pois obras desse tipo sempre tem algo novo a nos dizer e nunca se tornam obsoletas.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

O Retorno do escritor perdido

E eis que surge, emergindo das mais baixas realidades do horror, saindo dos corredores corrompidos um alpha! Implacável, vitorioso, ele caminha de volta para sua terra mãe, só para poder se reequipar e voltar ao combate!

Enquanto isso um escritor (aspirante à escritor), resolve tomar vergonha na cara, aproveitar a greve nas instituições federais e tirar a poeira de alguns de seus blogs... não que alguém além dele se importe com isso.

E nisso já aviso que o universo de thirianos já foi alterado mais uma(s) vez(es)... O horror está mais horrível, os alphas mais alphas, o imperador mais imperativo e as coilguns estão comendo soltas. Francamente, houve uma mudança brusca na história da sociedade thiriana, uma redução no número de estandartes alphas (de 26 para 13), mudança nos líderes de estandarte e a criação de novos personagens únicos.

E se a ficção mudou, que dirá minha vida! Estou estudando engenharia mecatrônica (Mek!! Arma dos audazes!!), entrei em um grupo PET (bolsa de pesquisa, extensão e ensino) e mudei de casa... Agora meu quarto é menor do que um banheiro e meu local de trabalho é a sala, perto de uma tv 20 pol... O que fode muito com minha criação literária.

Eu não prometo nada quanto ao blog, talvez eu poste novamente só ano que vem... vai saber quando acaba essa folga toda! Mas pretendo não ser tão negligente quanto fui com ele. Já estou digitando um conto para postar aqui e pretendo começar a escrever e publicar uma série de curtas aventuras.

Então é isso. Conto com a presença de vocês (alguém?) e espero que gostem do conteúdo que está por vir.